quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Barcelona e Real Madrid: um clássico da política



Engajaga, torcida catalã transforma partida de futebol em apelo por liberdade.

Quando se fala de futebol, os jogos entre os espanhóis Barcelona e Real Madrid costumam ser considerados o maior clássico entre times de todo o mundo. Além de uma rivalidade ímpar, as disputas entre essas equipes reúnem alguns dos melhores jogadores do planeta, incluindo estrelas como Lionel Messi, Cristiano Ronaldo, Kaká, Xavi, Iniesta, Xabi Alonso, Casillas, Daniel Alves, Fábregas, Marcelo, Özil e Benzema, dente tantos outros.

Toda essa constelação desfilou pelo gramado do Camp Nou, estádio do Barcelona, no primeiro domingo de outubro, dia 7, em mais uma disputa envolvendo as duas equipes. Como de costume, a imprensa esportiva do mundo todo cobria o evento, assistido de perto pelas quase 100 mil pessoas presentes ao estádio. O primeiro dos quatro gols da partida saiu aos 22 minutos do primeiro tempo. Pouco antes disso, aos exatos 17 minutos e 14 segundos, a torcida local explodiu em uníssono uma série de gritos de ordem enquanto agitava incontáveis bandeiras com listras vermelhas e amarelas espalhadas pela arquibancada. A manifestação não tinha muito a ver com o que ocorria dentro de campo. Tratava-se de política. Grande parte dos presentes gritava pela independência da Catalunha em relação à Espanha.

Com uma população estimada em mais de sete milhões de pessoas, a Catalunha é uma região de 32 mil km² situada no nordeste da Espanha. No ano de 1714, a região era um Estado próprio, como, por exemplo, é o Brasil nos dias de hoje. No entanto, após ter sido derrotada pelas tropas do rei Filipe V, a Catalunha foi anexada ao território espanhol, permanecendo assim desde então. Porém, mesmo com a perda da autonomia política, a comunidade manteve viva uma série de tradições e elementos culturais, especialmente o idioma catalão, que, ao lado do espanhol, é uma das línguas oficiais da região até os dias de hoje. A manutenção dessa identidade cultural traz consigo o anseio pela restituição da independência política da região. A Catalunha quer se tornar um Estado, ao nível, portanto, da própria Espanha. Nem mais. Nem menos.

Para a maioria dos catalães, o Barcelona, clube da capital da região, não é apenas uma equipe. Seus torcedores costumam descrevê-lo como “Més que un club”, isto é, “mais que um clube”. Para muita gente, o Barcelona é símbolo de uma nação, a catalã
A impressionante manifestação dos torcedores barcelonistas nas arquibancadas do Camp Nou tem tudo a ver com essa história. A escolha dos 17 minutos e 14 segundos não foi por acaso. Tratou-se de uma referência ao ano da perda de independência da Catalunha para a Espanha. E mais: para a maioria dos catalães, o Barcelona, clube da capital da região, não é apenas uma equipe. Seus torcedores costumam descrevê-lo como “Més que un club”, isto é, “mais que um clube”. Para muita gente, o Barcelona é símbolo de uma nação, a catalã.

Desse anseio por liberdade, salta aos olhos que Estado e nação têm significados diferentes. A palavra “nação” designa a reunião de pessoas em um povo, geralmente da mesma etnia, falando o mesmo idioma e sendo dotadas de características culturais semelhantes, como hábitos, religião e consciência nacional, por exemplo. Destaque-se a importância do sentimento de nacionalidade, segundo o qual as pessoas se sentem constituindo um mesmo organismo, com identidade própria, interesses especiais e necessidades peculiares, ainda que não possuam uma organização legal própria. Assim, uma nação pode ser fracionada entre vários Estados (ou países), casos, por exemplo, dos judeus e dos ciganos, ou dos próprios catalães. O clássico da política entre Barcelona e Real Madrid serve para ilustrar essa distinção. Enquanto que, para muitos, o Barcelona representa a nação catalã, para tantos outros, o time da capital (Madri) representa o Estado espanhol.

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